segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

ALERTA: CONHECIMENTO ECOLÓGICO TRADICIONAL ESTÁ SE PERDENDO EM SC!

Este conhecimento pode vir aser fonte de renda para agricultores no futuro...


Agricultores do oeste catarinense estão perdendo o conhecimento tradicional sobre as espécies nativas da região. Esse é um dos alertas de uma pesquisa reconhecida com o Prêmio Valorização da Biodiversidade de Santa Catarina, promovido pela Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina (Fapesc). O estudo foi desenvolvido por Elaine Zuchiwschi durante seu mestrado junto ao Programa de Pós-Graduação em Recursos Genéticos Vegetais da UFSC. Elaine foi vencedora na categoria Roberto Miguel Klein, como estudante de pós-graduação, e recebeu o prêmio na abertura do I Seminário de Valorização da Biodiversidade Vegetal de Santa Catarina, realizado no final do ano passado.
No trabalho Elaine avaliou o conhecimento e o uso efetivo, atual e passado de espécies vegetais das florestas Estacional Decidual e Ombrófila Mista por agricultores familiares da região Oeste de Santa Catarina. Com a participação de 42 produtores rurais da cidade de  Anchieta, o estudo levantou o conhecimento e o uso de plantas nativas da região. Além de realizar entrevistas, Elaine foi a campo com os agricultores, identificando espécies e seus usos. A pesquisadora percebeu que os participantes acima de 40 anos têm um maior conhecimento das espécies do que os mais jovens. “Os dados sugerem que existe um processo gradual de perda das condições de transmissão do conhecimento tradicional, com risco de erosão do conhecimento acumulado”, chama atenção Elaine. Segundo ela, esse cenário está relacionado ao abandono do uso das espécies nativas. As causas são os custos elevados e a burocracia para utilização legal da vegetação.
 Legislação em SC - Para retirar 20 árvores nativas da floresta, ou 15m³ de galhada de árvore para obter lenha, o agricultor catarinense com até 30 hectares de terra precisa apresentar, entre outros documentos, um projeto elaborado por um técnico, uma averbação de Reserva Legal na escritura do imóvel e uma planta topográfica que mostre a localização desse imóvel. O estudo premiado ressalta que estas obrigações fazem com que as comunidades substituam o uso de árvores nativas pelo plantio e utilização de espécies florestais exóticas. O trabalho de Elaine reforça o que outras pesquisas sobre as florestais secundárias no estado já haviam diagnosticado: a limitação ao uso e manejo dos recursos naturais como estratégia para a preservação ambiental tem resultados contrários ao pretendido. Isso porque a restrição passa a ser vista como inconveniente pelos agricultores, comprometendo a transmissão oral dos conhecimentos sobre as espécies.
Conseqüências - O uso da madeira em construção e de lenha como combustível são as atividades mais atingidas com a redução do uso das 132 espécies nativas identificadas na região. Entre os agricultores entrevistados, apenas sete utilizam madeiras de espécies nativas em construções e 21 deles estão substituindo estas plantas por exóticas. “O resultado contrário à preservação é visível nesses casos. As árvores exóticas são plantadas em áreas abandonadas de agricultura para evitar a regeneração da floresta nativa, que traz aos agricultores restrições para o futuro uso da terra e dos recursos”, descreve a pesquisadora em relatos de seu estudo. Segundo ela, os entrevistados continuam usando plantas nativas para lenha, ainda que a variedade dessas espécies seja menor. Em Anchieta, o fogão a base de lenha é usado por 92% dos entrevistados, que empregam nele madeira nativa. Para que o conhecimento e o uso das espécies tradicionais da região não se percam, Eliane sugere uma revisão das políticas ambientais, para simplificar o acesso legalizado às espécies nativas mais utilizadas no dia a dia dos agricultores. Recomenda também o desenvolvimento de estratégias de conservação e uso das florestas a partir da união entre conhecimento científico, tradicional e local. “O envolvimento das comunidades rurais é fundamental nas etapas de planejamento e implementação dos projetos”, salienta a pesquisadora, engenheira da Fundação do Meio Ambiente (Fatma).

(do Jornal Absoluto de 14/02/2011: http://www.jornalabsoluto.com.br/)

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