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Por que a ´coalizão da motosserra` leva vantagem Postado por Luiz Weis em 8/6/2009 às 5:42:13 PM O poeta Fernando Pessoa ironizava o suicida hesitante no poema que começa perguntando: “Se te queres matar / por que não te queres matar?”. Versos à frente, no mesmo tom, diz que “serás lembrado / aniversariamente / no dia em que nascente / e no dia em que morreste.”
A imprensa lembra de muitos assuntos aniversariamente. O que pode ser bom – afinal é para isso que existem os aniversários e se criam as datas de uma infinidade de coisas –, dependendo de como ela trata aqueles assuntos nos outros 364 dias do ano.
O mais recente marco do gênero foi o Dia Mundial do Meio Ambiente, na sexta-feira, 5, instituído pela ONU em 1972. Serviu para a Folha de S.Paulo produzir um excelente caderno especial sobre o tema, no Brasil. No seu melhor, focalizou o xis da questão ambiental no país, que o próprio jornal e os concorrentes abordam apenas fragmentariamente a maior parte do tempo, ao sabor dos fatos do dia-a-dia.
Trata-se da “tensão constante”, como se lê no título da principal matéria, que o assunto provoca no governo Lula, no qual os ambientalistas são uma ilha cercada de todos os lados por uma poderosa falange de interesses e doutrinas que convergem para um ponto: nas decisões dos poderes públicos, a economia deve ter prioridade sobre o ambiente.
A arena em que o economicismo leva ampla vantagem é, evidentemente, a Amazônia.
E essa vantagem muito pouco, ou nada, tem a ver com o estilo que a mídia costuma chamar “performático” do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc. Porque nos cinco anos e meio em que foi titular da Pasta, até 2008, a senadora Marina Silva – cujo comportamento é oposto ao do seu sucessor – praticamente só fez colecionar derrotas. Até que ela anunciou que perderia o cargo, “mas não o juízo”, e pediu as contas.
A hegemonia, no governo Lula, daquilo que pelo menos um jornal chamou “coalizão da motosserra”, não tem sido suficientemente explicada pela imprensa. De vez em quando, matérias e textos de análise chamam a atenção para a importância da bancada ruralista e os negócios miliardários que ela representa (quando não os seus próprios membros encarnam) na base parlamentar do Planalto.
Mas isso dá a falsa impressão de que, não dependesse ele do seu apoio, o presidente respaldaria pelo menos uma vez ou outra o Meio Ambiente, quem quer que fosse o seu ministro, contra o partido do agronegócio, cujo principal porta-voz, mas não o único, no Executivo. é o titular da Agricultura, Reinhold Stephanes.
No entanto, mais decisivas do que a armação política para a supremacia da turma da pesada – e menos trabalhadas do que merecem pela grande imprensa – são as convicções pessoais do presidente sobre as posições em confronto.
Essas convicções têm tudo a ver com a sua biografia. Lula começou a superar as imensas adversidades de sua origem social e a descobrir o mundo como torneiro-mecânico no ABC, matriz da vanguarda do desenvolvimento industrial brasileiro.
O país festejava o milagre econômico do regime militar, quando o ministro do Interior, Costa Cavalcanti, chefe da delegação brasileira à primeira conferência das Nações Unidas sobre meio ambiente, em Estocolmo – onde, aliás, foi criado o respectivo Dia Mundial – fez história ao declarar “bem-vinda” a poluição.
Não se sabe ao certo o que o metalúrgico Luiz Inácio da Silva pudesse pensar a respeito, à época. Mas, se ele tivesse de escolher entre carteira assinada e ar puro, não pensaria duas vezes.
De mais a mais, assim como não levava a sério “os barbudinhos da USP” quando se pôs a transitar do sindicalismo para a política, no percurso que desembocaria na fundação do PT, tampouco tinha lá muito respeito pelos verdes.
Lula – o que só um texto de jornal lembrou outro dia – é um “desenvolvimentista à moda antiga”, do tempo em que só uns poucos no Brasil falavam em desenvolvimento sustentável e eram ignorados pela imensa maioria.
Entre a construção de uma hidrelétrica, ou a abertura de uma estrada, ou a expansão da fronteira agrícola nacional – especialmente para a produção de biocombustível – ou ainda o aumento do nível de emprego na Amazônia, de um lado, e a sujeição de qualquer dessas coisas a critérios de proteção ambiental, de outro, o presidente não hesita.
O que de mais revelador ele disse sobre as restrições ambientais – como bem lembrou o caderno especial da Folha – foi a comparação com o surgimento da nova capital. “Se o Juscelino Kubitschek fosse construir Brasília hoje”, afirmou Lula há questão de dois meses, “não teria nem licença ambiental para construir a pista para ele descer com seu aviãozinho.”
A imprensa não precisa atacar ou defender o presidente por isso. Basta que remeta o leitor à nascente das suas opiniões sobre o que ele considera progresso e os ambientalistas, retrocesso.
terça-feira, 9 de junho de 2009
Moto-serras
Interessante e bem escrito texto do Observatório da Imprensa:
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