quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Para quem quer saber mais: biodiversidade.

Conhecimento não ocupa espaço.

Biodiversidade, essa desconhecida

Estudos estimam que cerca de 90% das espécies brasileiras ainda não foram descobertas

Giovana Girardi

O Brasil é o país mais biodiverso do mundo, abrigando cerca de 20% da biodiversidade do planeta, mas ainda desconhece a maior parte de suas plantas, animais e microrganismos. As cerca de 200 mil espécies já descritas por aqui não devem representar mais do que 10% do total, segundo estimou, em 2006, o pesquisador Thomas Lewinsohn, da Unicamp, que coordenou uma avaliação do conhecimento da biodiversidade brasileira para o Ministério do Meio Ambiente (MMA).

link Especial sobre biodiversidade

"E, se mantivermos o ritmo atual de descobertas de novas espécies, levaremos de 800 a 1.000 anos para conhecer tudo", diz o diretor de Conservação da Biodiversidade do ministério, Braulio Dias. "Ou melhor, esse é o tempo para descobrir o básico, a taxinomia. Porque para conhecer toda a biodiversidade, a ponto de poder aproveitá-la em benefício da sociedade, estamos ainda mais longe."

Mamíferos e aves são os grupos mais conhecidos, seguidos de répteis, anfíbios e peixes, mas, mesmo assim, não é raro ainda descobrir um novo macaco na Amazônia ou um anfíbio na mata atlântica. Só no ano passado foram descritos 17 novos sapos, rãs e pererecas no Brasil. Por outro lado, as espécies pequenas que vivem nas copas das árvores, além de invertebrados, microrganismos e espécies marinhas estão entre as mais desconhecidas.

"Deveríamos ter a ambição de ser o maior produtor de ciência em biodiversidade do mundo. Estamos sentados em cima dessa riqueza potencial, mas ela só deixará de ser potencial para ser real se investirmos em pesquisa. No mínimo dobrar o esforço científico nos próximos anos", afirma Dias.

Para cientistas que estudam a área, somente com mais pesquisas é possível vasculhar o tão aclamado potencial farmacológico da nossa biodiversidade e fornecer, com isso, mais informações para protegê-la da destruição. "Não adianta tentar conservar para o futuro, se não houver um avanço no conhecimento dessa biodiversidade. As duas coisas têm de andar juntas", afirma o biólogo Carlos Alfredo Joly, da Unicamp, que há mais de 20 anos estuda a biodiversidade da Serra do Mar.

Ele alerta, porém, que, apesar de haver um interesse nacional em aumentar as pesquisas na área, os cientistas ainda enfrentam dificuldades (mais informações na página 7). "A legislação atualmente até facilita o processo de coleta de fauna e flora. Uma vez obtida a autorização no Sisbio (novo Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade, em funcionamento desde o ano passado), o pesquisador está livre para coletar. Mas não tem autorização para fazer bioprospecção", reclama Joly.

Trabalhando com o programa Biota, inventário da biodiversidade paulista patrocinado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o biólogo tem feito varredura de plantas da mata atlântica e do cerrado no Estado. Outros grupos fazem o mesmo para animais. Em outro projeto, ele avalia a diversidade de espécies entre o nível do mar e o topo da serra, no litoral paulista. "O material está sendo identificado e guardado para quando tivermos autorização para fazer a bioprospecção, porque por enquanto está difícil, é um atraso gigantesco."

SOLUÇÕES PARA SAÚDE

Mas, de fato, o que dá para esperar de aplicação prática para a humanidade? Para o médico Aaron Bernstein e o bioquímico Eric Chivian, ambos da Faculdade de Medicina de Harvard, a resposta não é nada trivial. No livro Sustaining Life (Sustentando a Vida), lançado em maio nos Estados Unidos, eles defendem que a própria saúde dos seres humanos depende da biodiversidade. E que a idéia de que a cura do câncer pode estar escondida em alguma floresta brasileira não é absurda.

Na obra, eles lembram que alguns remédios clássicos para o tratamento de tumores já vieram de matas de outros países, como a Catharanthus roseus (conhecida como pervinca de Madagáscar), ameaçada de extinção no país. A planta é fonte de duas drogas para o tratamento das formas mais comuns de câncer infantil (leucemia linfoblástica e linfoma de Hodgkin).

Outro exemplo significativo é o Taxol, um dos medicamentos mais eficientes que existem contra o câncer de ovário, descoberto a partir de uma árvore típica da costa noroeste dos Estados Unidos.

A dupla defende no livro que as recentes discussões sobre perda da biodiversidade estão focadas nas conseqüências ecológicas, assim como nos efeitos éticos, sociológicos e econômicos que ela pode trazer, mas pouco tem se avaliado os impactos que a perda de espécies terá na saúde humana.

Chivian cita como exemplo os ursos polares, ameaçados pelo aquecimento global. Esses mamíferos ganham e perdem peso com facilidade ao longo da vida, sem ficar doentes. "Ao perdermos esses animais podemos perder, também, o melhor modelo para estudar doenças relacionadas à obesidade", observa o bioquímico.


(de http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20080807/not_imp219045,0.php)

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