quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Leão Baio, Suçuarana, Onça Parda...

Queria ver mais e mais gente defendendo estes pobres animais...

Uma aula de jornalismo no front da onça parda

Marcos Sá Corrêa*

Primeiro, a má notícia. Dias atrás, morreu um filhote de onça parda em Painel, no planalto de Santa Catarina. O bicho teve uma vida breve, mas um vasto currículo. Em julho do ano passado, aos três meses de idade, escapou por pouco dos cachorros que o acuaram no terreiro de uma chácara, à beira da estrada para a cidade de Lages.

Derrubado aos solavancos de um galho de guabiroba e lançado ao chão, livrou-se dos dentes da matilha para entrar numa jaula de passarinho. Entregue pela polícia ambiental à base de pesquisa avançada do Ibama, acabou não resistindo a uma cirurgia na pata traseira, feita no Centro de Ciências Agroveterinárias da universidade estadual. Morto, foi posto na geladeira, à espera da decisão final sobre seu próximo passo - a incineração ou o empalhamento, se for chamado a prestar serviços póstumos à memória da fauna nativa, apresentando-a para brasileiros que têm cada vez menos chances de conhecê-la ao vivo.

Dito isso, aí vai a boa notícia. A maioria dos detalhes que constam nos parágrafos acima vem do livro Leão Baio, feito por um estudante de jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina - de onde, é bom lembrar, saiu no ano passado o livro A Peleja do Eucalipto, do aluno João Werner Grando. Agora o autor se chama Leo Branco. Pelo nome - Leo - ele deveria trazer do berço a queda pelo assunto. Mas só o escolheu na última hora, quando precisava definir, em outubro do ano passado, um projeto para seu trabalho de conclusão do curso. Seu ponto de partida era fazer uma reportagem. E queria que a reportagem fosse "grande".

Conseguiu. Escreveu 119 páginas. Ou melhor, 130 mil caracteres, sob a orientação de Daisi Vogel, sua professora de Redação 7. Para pesquisar o tema, entrevistou 46 pessoas, entre os quais especialistas do calibre de Peter Crawshaw, a maior autoridade do País em onça. Da bibliografia, constam 20 títulos de livros e monografias. Da ilustração, 13 fotos coloridas.

Para encarar de perto os conflitos entre as onças pardas e os fazendeiros nas bordas das últimas florestas de Santa Catarina, Estado que mais tem e mais derruba mata atlântica, Leo Branco transferiu-se durante um mês para Urubici. E, viajando pela serra catarinense de ônibus, de carona com o pai ou no Ford Fiesta emprestado pela mãe, juntou os capítulos dessa tragédia ambiental com um cuidado que mesmo os jornalistas profissionais raramente têm, somando histórias bem narradas, informações a granel e texto fluente, onde tudo tem começo, meio e fim.

OPORTUNIDADE

A morte em cativeiro do filhote recolhido pelo Ibama em Painel serviu-lhe de pretexto para enviar agora o livro. E com isso ele mostrou, de quebra, senso de oportunidade jornalística. O bicho morreu depois que o trabalho estava pronto. Mas sua vida está toda lá, assim como a da suçuarana que apareceu há quatro anos num quintal em Curitibanos, uma cidade de 37 mil habitantes, ou da onça que quase virou atração turística num pesque-pague de Urubici.

A última onça pintada de Santa Catarina morreu de tiro em 29 de janeiro de 1972, derrubada por um capataz de fazenda e empalhada por um padre taxidermista para se preservar como material didático num colégio de Florianópolis. Mas as suçuaranas - chamadas regionalmente de leão baio, embora sejam parentes mais próximas do gato doméstico - resistem valentemente ao cerco da civilização, adaptando-se até às florestas comerciais de pinus. E, espremidas, estão batendo de frente com um Brasil que vai rapidamente ficando pequeno demais para elas. Ainda bem que Leo Branco viu isso a tempo.

* É jornalista e editor do site O Eco (www.oeco.com.br)

(fonte: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20081029/not_imp268590,0.php)

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