segunda-feira, 8 de outubro de 2007

'Madeira plástica' com reciclados

Quantos moirões de madeira poderiam ser economizados?

(de http://www.valoronline.com.br/valoreconomico/285/empresasetecnologia/empresas/Igel+faz+'madeira+plastica'+com+reciclados,07410,,51,4566797.html)

Igel faz 'madeira plástica' com reciclados
André Vieira
04/10/2007

Marisa Cauduro/Valor

Rogério Igel, acionista do grupo Ultra e sócio da Wisewood: "Nunca gostei de fazer o que todo mundo faz"
Um ano atrás, três engenheiros formados pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), com ajuda de uma pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, tinham chegado ao desenvolvimento, em laboratório, de um processo para a produção de "madeira plástica", um substituto ao bem natural, fabricado com material reciclado como garrafas plásticas, fibra de vidro, pó de pneu e óleo lubrificante.


Por inspiração de Ozires Silva, um dos criadores da Embraer, o plano de negócios dos engenheiros caiu nas mãos de Rogério Igel, um dos acionistas do grupo Ultra, e controlador da Ecosorb, uma empresa de gestão ambiental.


"Antes de encontrar com eles, já tinha um rascunho do que se tratava e nem precisei ler o plano de negócios. Era algo inovador", conta Igel. "Nunca gostei de fazer o que todo mundo faz. O pioneirismo está no sangue da gente", diz o filho mais velho de Pery e neto de Ernesto Igel, empreendedor e fundador do grupo Ultra.


Da união dos engenheiros e da pesquisadora com Igel, surgiu a Wisewood, a primeira empresa de madeira plástica em larga escala do país, que dá início à sua produção neste mês em Itatiba, a 90 quilômetros de São Paulo. São dormentes, cruzetas para postes de linhas de transmissão, pallets e tapumes, itens onde a madeira agrega pouco valor. Igel será o principal acionista, com 60% do negócio, ocupando o cargo no conselho de administração.


O investimento foi de R$ 20 milhões, dos quais R$ 12 milhões da linha do Finame do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Por mês, a fábrica produzirá 900 toneladas de produtos acabados, podendo quadruplicar caso haja necessidade. "Um fator limitante é a capacidade de coleta de matérias-primas", diz Igel.


"As empresas não querem comprar um passivo ambiental", diz o presidente da Wisewood, Vladimir Kudrjawzew, um dos engenheiros do ITA, que já tinha atuado em reciclagem de PET, resina usada em garrafas de refrigerante. Ele conheceu a tecnologia de transformação de reciclados em materiais plásticos na Feira K, na Alemanha, em 1999, e juntou-se à pesquisadora Elen Pacheco, do Instituto de Macromoléculas da UFRJ, que investiga os usos dos reciclados.


Numa das pontas, a empresa mapeou suas necessidades de matérias-primas, que hoje vão para os lixões. Precisará de 1 mil toneladas de resíduos por mês, mais de 60% de plásticos. A escolha recaiu sobre o polietileno de alta densidade, utilizado largamente em embalagens, mas cujo índice de reciclagem é baixo na comparação com o PET. "Já temos uma estrutura para recolher esse material na região", diz Kudrjawzew. Cooperativas de reciclagem, resíduos de fabricantes e postos de combustíveis vão abastecer a empresa. "Uma das idéia é recolher as embalagens plásticas de óleos dos postos da Ipiranga", afirma Igel, citando a rede de distribuição adquirida em março pelo grupo Ultra. A Wisewood é acionista da OilPacking, especializada neste tipo de coleta.


Na outra ponta, a empresa está negociando seus produtos com potenciais clientes, tendo obtido as especificações técnicas para elaboração dos moldes. "Será uma empresa com pouco clientes", diz Igel, acrescentando que a empresa já contatou a Vale do Rio Doce, Coca-Cola, Método Engenharia e Bragantina, do grupo Rede, de distribuição de energia.


A Vale do Rio Doce, que não possui contrato formal com a empresa, está usando dormentes reciclados em fase experimental em duas ferrovias. Na Estrada de Ferro Carajás (EFC), foram instalados 600 dormentes de plástico e 600 de borracha. Na Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM), já há 500 dormentes de plástico. Mas o programa de substituição de dormentes da mineradora prevê o uso mais intenso do aço, com mais de 2 milhões de unidades instaladas. Em 2006, a Vale comprou cerca de 600 mil dormentes para as suas ferrovias.


Embora haja um custo de até quatro vezes maior em relação a um dormente de madeira (que sai por volta de R$ 100), a Wisewood avalia que a vantagem do produto plástico está em relação à durabilidade. "Pode durar 50 anos, em vez dos 15 de um dormente de eucalipto", afirma Kudrjawzew.

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