quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Canto de pássaro "abre trilha" na mata atlântica

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Canto de pássaro "abre trilha" na mata atlântica

EDUARDO GERAQUE
da Folha de S.Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/folha/bichos/ult10006u374125.shtml)

Ser sofisticado e simples ao mesmo tempo, por mais paradoxal que possa parecer, é a principal qualidade do sistema de comunicação do pequeno pula-pula-assobiador, pássaro que habita a mata atlântica e ainda existe até em São Paulo.

"É um único tipo de canto, que serve tanto para fazer o reconhecimento específico com todos, quanto para estabelecer a comunicação com os vizinhos", explica Danilo Boscolo, um dos pesquisadores do grupo que decifrou o sistema de comunicação sonora da ave.

É a primeira vez que um estudo deste tipo, realizado na reserva do Morro Grande, em Cotia (SP), é feito para um pássaro das zonas tropicais, segundo Jacques Vielliard, pesquisador da Unicamp e outro autor do estudo. O trabalho está publicado na revista "PLoS One".

Os experimentos realizados revelaram a complexidade do canto do pula-pula-assobiador. A pequena ave, que tem em média 10 cm e pesa 25 gramas, tem um só tipo de canto. Mas com ele a espécie consegue emitir e obter todas as informações de que precisa, ao mesmo tempo. "O som, digamos, tem um componente público e outro privado", explica Boscolo.

O canto emitido pelos machos tem um componente mais agudo, que atravessa uma distância de pelo menos 100 metros da mata atlântica. O segundo componente, mais grave, não tem poder tão alto de cortar a floresta atlântica. "O som que se propaga mais serve para a ave promover o reconhecimento dos outros representantes da mesma espécie. É como você passar por uma rua, por exemplo, e perceber o som de outros seres humanos dentro de algum lugar", diz Boscolo.

A segunda parte é apenas para os vizinhos mais próximos. "O som que chamamos de privado atinge uma distância menor. Serve para o animal se comunicar com seus vizinhos na mata, que são normalmente de três a quatro. Se houver um invasor de território da mesma espécie ele logo será flagrado."

Segundo Vielliard, o sistema de comunicação decifrado agora pelo grupo de que ele faz parte é uma prova cabal da evolução: "Não era esperado que esse bicho tivesse um sistema simples e sofisticado como esse. São variações sutis que ele usa".

Segundo ele, a seleção natural trabalhou para afinar o canto do pula-pula-assobiador, que é totalmente adaptado às condições da mata atlântica --ambiente onde é bastante complicado um som se propagar com facilidade devido aos grandes obstáculos naturais.

"É uma ave pequena, rápida, que vive no meio da mata atlântica. Se ela não tivesse um sistema de comunicação sonora eficiente seria muito difícil ela se reproduzir, se proteger e cuidar dos filhotes", explica Boscolo.

Uma pequena alteração no mesmo tipo de canto estudado pelo grupo, segundo Vielliard, também foi identificada: "Isso serve para ter uma noção de distância". O fato de o sistema de comunicação do pula-pula-assobiador ter sido forjado durante milhares de anos pela seleção natural em sintonia com o ambiente onde vive a espécie torna fundamental a preservação das áreas de mata atlântica. Estima-se que, do bioma original, sobraram apenas 7%.

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