segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

O difícil adeus ao petróleo

Não se iludam! Um dia o petróle vai acabar meeesmo! Em toda parte! No Texas, no Alaska, na Arábia Saudita, na Venezuela, no Iraque...
É preciso acabar com esta folia automobilística!
Transporte coletivo para todos, com conforto,a toda hora!

O difícil adeus ao petróleo
Andrés Piedragil
Cidade do México
(de http://www.americaeconomia.com/PLT_WRITE-PAGE~SessionId~~Language~4~Modality~0~Section~1~Content~33999~NamePage~AmecoNegocios~DateView~~Style~15543.htm)
No México, poucos se atrevem a descartar o mau presságio: o petróleo está acabando. As jazidas em produção mostram sinais de esgotamento. Ao mesmo tempo a petroleira estatal Petróleos Mexicanos (Pemex) não tem recursos econômicos nem tecnologia para explorar as reservas que ainda estão disponíveis nas profundezas do Golfo do México.
Diante desse cenário, o país trata de promover o desenvolvimento de novas fontes de energia, em especial as baseadas em recursos naturais renováveis. E como ocorreu em outras latitudes, as autoridades mexicanas acreditam que os biocombustíveis – com o etanol como elemento central – poderiam oferecer uma alternativa à política energética nacional.
Porém o entusiamo não é geral, como ficou demonstrado no ano passado, quando se votou no Congresso a promulgação da Lei de Proteção e Desenvolvimento dos Bioenergéticos, uma iniciativa governamental para promover a produção e o uso de biocombustíveis. Ainda que se tenha conseguido aprovar a iniciativa, apesar da forte oposição da esquerda, o presidente Felipe Calderón terminou por vetá-la, realizou algumas mudanças e mandou o projeto novamente ao Congresso para uma nova votação, que finalmente ocorreu em dezembro de 2007, com a aprovação do texto final.
Em sua primeira versão, a lei sugeria que a produção de etanol deveria se basear nas plantações de milho e cana-de-açúcar. Uma questão que, dada a importância do milho na alimentação diária dos mexicanos, foi o principal motivo do veto. O texto definitivo simplesmente opta por não especificar nenhuma plantação. “A diversidade geográfica do México permite incorporar diferentes espécies para a produção de etanol, e não só o milho e a cana”, afirma Héctor Padilla, presidente da Comissão de Agricultura e Pecuária da Câmara dos Deputados da Federação Mexicana. Ao mencionar fontes potenciais de biocombustíveis, a lei também fala de recursos como algas marinhas, soja, sorgo, beterraba, celulose, e de elementos como girassol e cártamo, entre outros, no caso do biodiesel.

O governo mexicano espera contar, no final de 2012, com pelo menos 300 mil hectares de grãos para a produção de biocombustíveis (1,4% dos 21 milhões de hectares de terra cultivável que o país possui). E ainda que a terra reservada pareça pouca, foi suficiente para acender as críticas contra o governo. Por um lado, há quem considere que não se pode evitar o milho e a cana-de-açúcar, já que ambos produtos são o principal insumo para a produção de etanol e já existe muito know how e tecnologia para sua exploração como fonte de energia, o que não ocorre com outras culturas agrícolas.

E o México não está em uma posição fácil para considerar o milho como alternativa. Segundo dados da Secretaria da Agricultura, o grão ocupa o primeiro lugar em superfície cultivada (8 milhões de hectares) e exibe uma produção média anual de 21 toneladas, o que mal é suficiente para atender à demanda interna. A cada ano, é preciso importar 7 milhões de toneladas para satisfazer as necessidades dos setores pecuário e industrial. Nesse contexto, aproveitar o milho para produzir combustível é um risco que não vale a pena correr. “Não vamos nos enganar: a quantidade de milho que se exige para encher o tanque de uma picape é a mesma que se necessita para alimentar uma pessoa durante um ano”, afirma Augusto López, deputado do Partido Verde Ecologista do México, que se opôs firmemente à lei.

A cana-de-açúcar seria uma alternativa melhor. Segundo dados do governo, sua produção se situa, há mais de uma década, na ordem de 5 milhões de toneladas por ano, com excedentes próximos a 1 milhão de toneladas. “O milho está marcado por problemas de produção e políticos, daí que a cana-de-açúcar, na qual o país é auto-suficiente e até tem capacidade de exportação, resulta uma melhor opção para a geração de etanol no México”, afirma José Antonio Serro, professor do Departamento de Estudos Empresariais da Universidade Iberoamericana.

Apesar disso, o consenso sobre a cultura ideal não garantiria o sucesso do projeto de biocombustíveis. A produção de etanol exigirá a importação de tecnologia, bem como o desenvolvimento de uma indústria local e de sua respectiva cadeia de abastecimento. Atividade que não seria fácil de implantar no México, onde a produção e distribuição dos combustíveis estão nas mãos do Estado. Sem capacidade financeira e sem permitir que capital privado possa se envolver na consolidação de uma indústria mexicana de etanol, o caminho dos biocombustíveis se mostra ainda mais complicado. “À medida que a legislação não permite que particulares participem da produção e transporte de combustíveis, a médio prazo não haverá avanços”, declarou à imprensa mexicana Francisco Gurría, diretor da consultoria Asesores y Consultores em Desenvolvimento Agrícola.
Para Serro, da Universidade Iberoamericana, o fator do modelo econômico será a chave para se estabelecer uma política nacional de biocombustíveis, como demonstra o caso do Brasil. “O governo brasileiro envolveu produtores rurais, empresas do setor energético, fabricantes de automóveis, para dar forma a seu projeto de etanol. Preocupou-se em alinhar os interesses de todos os participantes da indústria e nisso está o segredo de grande parte do sucesso do projeto.” No México, considera Serro, uma iniciativa parecida só poderia ser liderada pela Pemex. Mas o monopólio estatal, considerado chave de entrada, nem sequer pensa em usar o etanol como oxidante de gasolina.

Nos primeiros dias de fevereiro, o governo de Felipe Calderón apresentará seu plano de trabalho para biocombustíveis, que será coordenado por uma recém-criada Comissão de Bioenergéticos, liderada pelos ministros da Agricultura, Energia, Meio Ambiente, Economia e Fazenda.

O México gastou tempo demais discutindo o tema, diferentemente de países como Colômbia e Guatemala que recentemente lançaram seus projetos de desenvolvimento de biocombustíveis. E talvez esse seja o dado mais inquietante do novo projeto mexicano de biocombustíveis. “Ainda estamos na fase do ‘vamos fazer’, em vez do ‘estamos fazendo’”, lamenta Serro.

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